quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Sonho de Escuridão

Fazes parte do meu sonho. Um sonho pintado enquanto caminhava sob o piso de alcatrão reluzente, isento de todas as suas impurezas pela chuva, enquanto observava a auréola branca e luminosa da lua, escondida por de trás das arvores negras pintadas a carvão.


Por vezes sinto-me presa numa dessas florestas de árvores pintadas a carvão, como uma reclusa entre a escuridão, quase como se estivesse presa numa jaula cujas grandes se inclinam sobre mim e me encurralam, serva do meu próprio fado, uma escrava intemporal da minha própria vida… e morte. Sinto que só tu me podes libertar da crueldade do meu destino que quase me berra aos ouvidos que vou ficar sozinha para sempre, reclusa dentro de mim própria, dentro da minha morte encefalar: quando as sinapses se dissecam e o espírito se perde, morrendo para sempre; desfalecida sob uma pedra pintada a sangue com o meu nome escrito, onde ninguém poderia me encontrar, como se fosse uma dimensão à parte, oculta ao olhar humano, um sitio de beleza tal que chega a ser sublime, porém, um sitio, onde apenas os monstros e as bestas podem entrar, recolhendo a minha alma, a qual destroem, retirando-lhe o direito à imortalidade e a esperança de um dia se libertar.


Isto é apenas a base de todas as minhas superstições e enigmas, a base de tudo aquilo que represento e daquilo em que me vou tornar (um dia) e foi assim, observando Vénus lembro-me do nós que éramos e do nada que agora somos, apercebendo-me da alegoria rítmica representada na palavra “Amo-te” que tanto me dizes. Amo-te. Amas-me? A mim? Não. Porque quando “a” quer dizer “b”, “Amo-te Filipa” significa “Amo aquilo que sei que te irás tornar” (um dia!), amo tudo aquilo que penso que és e se não és vais ser (UM DIA), te irás tornar em tudo aquilo que sou, uma cópia da minha súbita e curta existência (UM DIA??); Nunca mas nunca me vou tornar no que tu queres que seja, não vou permitir a mim própria a marceração do meu ser, lascando lentamente pequenos pedaços do meu ser, para juntar ao teu e formar um todo inquebrável… inquebrável. Desde quando algo que cai e se destroça, e que nós repetidamente tentamos unir com cola num acto de desespero para que ninguém repare na asneira que fizemos é inquebrável?! Mas o “todo” caiu vezes demais, e sempre que tentamos cola-lo tal e qual vaso, existem pequenos fragmentos que se perdem e, em vez de ninguém notar, toda a gente olha e repara no massivo buraco existente naquele “todo” inquebrável que tantas vezes se partiu até não restar quase nada, tentamos disfarçar mas a verdade vem sempre ao decima: nada é perfeito e a perfeição não passa de um ideal, pena o teu não ser eu e o meu não ser o que tu queres que eu me torne.


Porque é debaixo dos planetas e das estrelas que os sonhos se formam e ganham vida, é por entre os devaneios da minha agonia que os da tua felicidade ganham força e é por entre as minhas qualidades que as tuas inseguranças adquirem vida.


Eu Amei-te… Eu Amei-me… Eu Amei-nos… mas tu nunca me amas-te… Amas-te o teu ideal de perfeição e tudo aquilo que idealizaste sobre mim e eu não era, tudo aquilo que colaste e se partiu, tudo aquilo que desejaste e se desvaneceu, tudo aquilo que eu sou, mas tu não queres.


Prefiro jazer na pedra, prefiro jazer num sitio invisível e doloroso, do que ser visível aos teus olhos e tu não me veres realmente. Assim prefiro ficar, desprovida da minha existência numa pedra pintada a sangue com o sorriso da ironia estampado em frieza, como se de mim troçasse.


Por muito que a morte me possa desprover de existência, por muito que os demónios me possam devorar a alma e flagelar o corpo, tu nunca me vais conseguir destruir. Tu devaneio das minhas loucuras e objecto da minha devoção, (Tu) aquele que me julga amar e não ama (Tu).


Deito-me sob o meu jazigo por entre a bruma densa do norte, penso em como fui ingénua em acreditar e como fui erudita em perceber, em como fui forte em aguentar e fraca em te amar, relembro o doce cheiro da primavera do teu rosto e do verão ardente do teu olhar, penso em como vai ser desaparecer, ser ocultada da face da terra no sitio onde a lua bate, penso no que me irá acontecer quando me retirarem a imortalidade de espírito e destruírem aquilo que mais preso, mas sim, ainda sinto o sabor da ironia nos meus lábios. Pois afinal não era eu que te ia Deixar?


Este Texto ilustra a raiva e a dor que senti quando quase fiquei sem aquele que amei, ele nao me deixou(na altura), mas a raiva e a dor cegam tanto, que muito do que escrevi nao passa de uma mentira, um devaneio de loucura, quando tudo julguei perdido, no entanto, naquele dia, naquela hora, tudo me parecia tão real, como se tivesse feito uma incrivel e horrivel descoberta. A raiva cega uma pessoa, mas o desespero e' que a deita ao chão.

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